sábado, 7 de janeiro de 2023

Correndo atrás do ônibus

Pode ser humilhante, mas vez ou outra é necessário


Encarei essa tela em branco por mais tempo que poderia prever. Escrevi blogs por quase toda a minha vida adolescente e adulta (com intervalos vez ou outra) e esse é o período mais longo que passei longe desse universo. Talvez eu realmente tenha desaprendido a arte de blogar.

Mas não é sobre isso que quero escrever. Tô aqui pra falar que com os 34 anos batendo à porta, pensei, pensei, pensei e realmente não sei onde quero chegar.

De maneira geral, posso dizer que naveguei com certa tranquilidade pelos anos de pandemia. [Tranquilidade aqui lê-se como intercalando ocasiões de surto e calma que se é possível ter diante do que parecia ser o verdadeiro fim do mundo.]

Foi também durante esse período que me apaixonei pela internet e embarquei num relacionamento à longa distância que logo mais completa 2 anos. 

Sim, a vida mudou e eu mais ainda. Me encontrei de diversas maneiras e me perdi um pouco também.


Eu vivia um período relativamente pleno de independência e crescimento pessoal quando o mundo parou por quase 2 anos. Entre jeitinhos e adaptações (e algumas muitas noites solitárias acompanhadas de vinho, junk food e crises de choro), tudo deu certo dentro do possível. E passado o furacão, a ficha foi caindo para o que realmente me tornei: uma pessoa reclusa.

Aqui vale uma pausa para explicar melhor o que quero dizer por ter me tornado reclusa: eu vou a bares, viajo, vou à praia e convivo com meus amigos. O que parece ter ficado congelado no tempo é a habilidade de fazer pequenas tarefas do dia a dia.

A comodidade do delivery, da compra online, do trabalho remoto... tudo isso me engoliu sem que eu percebesse. E agora, com mais liberdade para sentar numa cafeteria, fazer a feira ou ir à padaria, eu pareço presa nos meus próprios hábitos.

Atualmente tenho navegado entre dois moods: num dia acordo muito determinada a sair pra comprar um pãozinho de sal e n'outro acordo pensando que poder estar em casa é um grande privilégio que não posso desvalorizar. O desafio aqui está em encontrar o famoso equilíbrio.

Costumo entrar numa numa espiral de pensamento muito louca. Ao longo dos últimos anos, muito se falou sobre encontrar o próprio limite, não se preocupar se num dia ou outro a produtividade não bater e também sobre não nos cobrarmos tanto ou nos compararmos.

Durante certo tempo comecei a praticar essa mentalidade como parte de uma rotina de *autocuidado*. E então, veio ela: a síndrome do impostor que não me permite sequer achar que tenho o direito de estar cansada. É como se eu não fizesse o suficiente ou o mesmo tanto que outras pessoas e, por isso, não deveria estar cansada. Mesmo que eu trabalhe de segunda a sexta, cuide do apartamento onde moro sozinha (for the most part), mantenho as plantas vivas e também duas cachorras. Já que recebo as compras do mercado em casa, não deveria estar tão cansada. 

Dia desses, rolando pelo feed do TikTok (sim, eu faço isso agora), me vi presa num algoritmo que insistia em me mostrar conteúdos de pessoas que se gravam fazendo atividades típicas de um cotidiano qualquer, porém de maneira aesthetic. Organização de geladeira, compras do mês, gaveta de doces, jantares e almoços elaborados, café da manhã absurdamente saudável... uma infinidade de conteúdos criados exclusivamente para mostrar para você, mulher cansada, que não basta organizar a dispensa, ela também precisa ser feita coordenando o tamanho de potes, alinhando os biscoitos e acumulando um excesso absurdo de produtos que você será incapaz de consumir antes da data de vencimento.

Me perguntei se estava assistindo aquilo pra rir ou me torturar. Provavelmente ambos, visto que não organizo a minha dispensa há pelo menos uns 6 meses e na gaveta da geladeira tem batata que comprei mês passado. Mas isso aqui é assunto para outro post.

Quando comecei a escrever esse texto, não fazia ideia de onde ia chegar com ele e nem exatamente o que queria alcançar. Com a virada do ano sempre bate aquela necessidade de fazer alguma coisa diferente, ainda que absolutamente nada tenha mudado entre 31 de dezembro e 1 de janeiro.

Como para 2023 decidi que não faria nenhuma resolução (pq nunca cumpro nenhuma), resolvi escrever sobre a vida. E esse é meu "algo diferente" não tão diferente assim.


Pq é como disse Deborah Secco: a gente é o que a gente consegue ser.

Don't be a stranger: me acompanhe no Twitter! Yours truly,
Ana

Correndo atrás do ônibus

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